Dia Internacional das Crianças Desaparecidas

Hoje o dia tem uma conotação diferente, é o Dia Internacional das Crianças Desaparecidas, é um dia onde muitas famílias afogam as tristezas e a saudade nas memórias de quem viram ir, mas não viram voltar.

Então hoje venho falar-vos um pouco das crianças desaparecidas em Portugal nos últimos anos, e um pouco dos contornos que podem estar por detrás destes desaparecimentos e de tantas outras crianças.

O objetivo deste dia é encorajar a população e a comunicação social a refletir sobre todas as crianças que foram dadas como desaparecidas, espalhar uma mensagem de esperança e solidariedade no plano internacional para os pais e restantes famílias que vivem esta problemática, levar as autoridades a refletir na prevenção, nas estratégias a implementar em colaboração com as entidades responsáveis pela Educação, pela Justiça e pela Segurança, como refere o Instituto de Apoio à Criança.

Em Portugal desaparecem diariamente em média duas crianças ou jovens até aos 18 anos. A maioria é recuperada, mas infelizmente não são todos.

Podem existir diversas razões para o desaparecimento de uma criança/adolescente e estas podem ser, rapto parental, rapto para fins de tráfico, fuga, esconder uma morte negligente ou consciente, entre outros. 

Alguns desapareceram há mais de 20 anos. Misteriosamente. Outros desapareceram mais recentemente. Para as famílias de qualquer uma destas crianças é tempo demais sem saber notícias.

Então, as sete crianças que desapareceram em Portugal são:

Carina Macedo de Carvalho: desapareceu entre 1 de setembro de 2013 e 30 de setembro de 2013 quando tinha 15 anos, não se conhece os contornos do desaparecimento mas sabe-se que Carina esteve perante um processo de promoção e proteção de menores, que só se manteve até ela completar a maioridade, que aconteceu a 17 de setembro de 2016.

Madeleine Beth McCan: o desaparecimento de Maddie foi um dos casos mais mediáticos de Portugal ao qual não se conhece o que aconteceu verdadeiramente, embora hajam muitas especulações e teorias, o certo é que desde 3 de maio de 2007 nada se sabe sobre o paradeiro de Maddie.

Este caso intrigou bastante os Portugueses e o Mundo porque as buscas começaram logo que se soube da noticia do desaparecimento, a investigação foi feita pelas policias portuguesa e inglesa, haviam imensas testemunhas e mesmo assim não se chegou a encontrar a criança.

 

Na minha opinião pessoal, este caso tem muito mais que se lhe diga apar além do alegado desaparecimento da filha dos McCan, há imensa informação conturbada, depoimentos duvidosos, troços da investigação que falharam, contaminação do local do “crime”, interesses relativos ao estatuto social da família, entre outros. Contudo, Maddie continua a ser procurada.

Tatiana Paula Mesquita Mendes: Também se pode chamar Odete Araújo Freman ou Odete Araújo Freman Frima. Foi considerada como desaparecida em maio de 2005.

Nasceu na Guiné Bissau e consequente de uma vida muito necessitada após a morte do pai, a criança foi entregue a uma prima da mãe biológica com a concordância da mesma com o objetivo de proporcionar uma vida melhor a Tatiana, então a criança viajou para Portugal em maio de 2004 com o casal “adotivo” e desapareceu ao qual a mãe adotiva alega que a criança tinha falecido num acidente de viação após ter sido entregue a uma outra pessoa.

A mãe biológica veio para Portugal à procura de respostas e até hoje desconhece o paradeiro da filha.Nada mais se sabe a cerca deste caso.

Sofia Catarina Andrade de Oliveira: O caso de Sofia será um dos casos em que se suspeita de sequestro parental. A criança terá sido subtraída à mãe pelo pai, cerca das 20:45, no centro de Câmara de Lobos. De acordo com informação que consta do site da PJ, na fuga com a menor de dois anos, o suspeito apanhou um táxi e, posteriormente, boleia de um familiar, tendo sido deixado a pé, com a filha, pelas 21:30, no Caniço de Baixo. Por volta das 23:30, o pai da criança deslocou-se à Esquadra da PSP de Câmara de Lobos, onde se encontrava a mãe a participar o desaparecimento da menor, altura em que aquele já não trazia a filha consigo.

Até hoje é um mistério o que realmente lhe aconteceu.

Jorge Manuel Sepúlveda: É um dos casos de desaparecimentos de crianças mais antigos em Portugal. Jorge, natural de Massarelos, no Porto, tinha 14 anos quando desapareceu no dia 15 de agosto de 1991.

 

Rui Manuel Correia Pereira: O caso do Rui Manuel é outro dos mais antigos. Natural de Vila Nova de Famalicão, Braga, desapareceu há 18 anos, sem deixar rasto no dia 2 de março de 1999.

 

João José Gomes Teles: Natural de Câmara de Lobos, na Ilha da Madeira, João frequentava o 9º ano, quando desapareceu. Tinha 16 anos. Desapareceu do Largo do Machiqueiro, em Câmara de Lobos no dia 6 de outubro de 1998. Até hoje, não há pistas sobre o seu paradeiro.

Rui Pedro Teixeira Mendonça: Um outro caso que foi muito mediático e ainda hoje é muito falado, é o desaparecimento de Rui Pedro no dia 4 de março de 1998.
Tinha 11 anos quando desapareceu. Foi andar de bicicleta, perto da escola de condução propriedade da família e nunca mais se soube nada dele. Têm sido várias as notícias de supostos avistamentos, mas que não deram em nada e até isso se foi esvaindo ao longo do tempo.

Pelo seu desaparecimento, já foi condenado Afonso Dias. Cumpriu dois terços da pena e saiu em liberdade, e ainda hoje Afonso Dias declara-se inocente. A luta da mãe de Rui Pedro, Filomena Teixeira, que nunca desistiu de saber do paradeiro do filho, tem comovido o país ao longo de todos estes anos. 

Cláudia Alexandra Silva e Sousa: Filha de uma família pobre e numerosa do lugar de Lamela, freguesia de Oleiros, concelho de Vila Verde, desapareceu, a caminho da escola, no dia 13 de maio de 1994. As versões sobre o seu desaparecimento são mais que muitas e os pormenores tornam o caso ainda mais misterioso. Correu o boato de que os pais a venderam, “por 400 contos”, de que foi levada por uma tia para Espanha, de que estaria em Odivelas, onde seria vítima de maus tratos, ou de que teria sido levada para Espanha. Nenhuma destas pistas se revelou proveitosa.

Agora a questão que vos coloco é, o que está por detrás do desaparecimento de uma criança? 
Bom, de facto para além dos inúmeros fatores que referi a cima, os estudos nesta matéria ainda são muitos escassos  e de há uns anos para cá tem sido feito um esforço nacional e internacional no sentido de aumentar a eficácia na abordagem a situações desta natureza bem como dedicar maior atenção aos fatores de risco, como por exemplo os planos de prevenção para utilização da internet com segurança, que noutros moldes pode ser um fator determinante no desaparecimento de uma criança, ou a forma como educamos os nossos filhos a não falarem com estranhos, a quando se assiste a um mundo em que a criminalidade é cada vez maior e pro aí fora.

Felizmente, a grande parte dos casos de desaparecimento de crianças e adolescentes em Portugal acabam por terminar com o aparecimento dessas crianças e desses adolescentes, porque geralmente resultam de conflitos familiares ou escolares, que levam a que o menor fuja da sua residência como uma forma reativa de lidar com o conflito, contudo não podemos colocar de parte nem camuflar as estatísticas que apontam para um número de menores desaparecidos e que até hoje não apareceram ou aqueles em infelizmente acabaram por ser vitimas fatais, como no caso do recente caso da Valentina ou o caso de Joana Cipriana desaparecida em 2004.

É também importante referir que as estatísticas revelam que uma parte do desaparecimento de menores se deve ao rapto parental e que geralmente está relacionado com separações familiares, divórcios, conflitos de interesses entre os pais.

“As situações como as do Rui Pedro ou da Maddie McCann são absolutamente devastadoras numa família, os pais, não estão "programados" para sobreviver aos filhos, é quase "contra-natura". Se a este cenário acresce a ausência física de um corpo que, por um lado, testemunhe a tragédia da morte, mas, simultaneamente, permita o desenvolvimento de um processo de luto, a elaboração da perda como referem os especialistas, que, tanto quanto possível, sustente alguma reparação e equilíbrio psicológico e afetivo na vida familiar, a situação é de uma violência inimaginável.”

Por fim, gostava também de relembrar a existência daquelas crianças que não desapareceram, mas são invisíveis num seio familiar, num seio escolar ou num seio institucional e há uma enorme necessidade de ter atenção a estas crianças que muitas vezes são negligentemente abandonadas mas que continuam à vista de todos.

Não podemos esquecer que as crianças são o nosso amanhã e que embora ainda vivamos numa sociedade que não compreende completamente a criança e isso leva a que muitas delas não saibam lidar com elas próprias nem com o abandono e isso pode trazer de facto consequências gravosas, como uma fuga maluca, a procura do consumo de algo que as faça sentirem-se mais além, a procura de ambientes que lhes proporcionem a adrenalina de quem nada tem a perder ou um ecrã com companheiros tão abandonados quanto eles.

Talvez um dia, infelizmente, estas crianças também nunca mais apareçam, seja na sua essência, seja fisicamente.


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